Cronologia fechada,
O formato do costume,
sem eufemismo –
Um nome e as duas datas
fatídicas,
Uma quase tão terrível
como a outra,
E o frio cavado entre
elas –
O formato de uma vida.
Parecem tão próximas
As duas cabeças do
tempo,
Cúmplices omniscientes
que se fitam,
Sem uma palavra sobre a
sua maquinação,
Nada, nem o vagido da
primeira
Nem o estertor da última
hora,
Nenhum sinal, nenhuma
linha,
Nenhuma espuma de ausência
Euforia, desespero,
alegria.
Nenhuma ruína de suor,
Enzimas, fluidos, sucos
E, se entre as duas
datas, houve amor
Morreu com a sua
imortalidade
Ou mudou-se para outras
esferas.
Só o ressumbro do
vazio.
Entre as duas datas,
tudo subsumido,
Isto é, asfixiado,
devorado, perdido.
Entre as duas margens,
um deserto,
A calcinação resignada,
A submissa e total ausência
de verbos
De que nascem vozes,
nomes, corpos, dias.
Tudo se confina a isto,
a este punhado de caracteres,
Um nome e duas datas,
entre as quais
Tudo aconteceu, ou
nada,
E tudo dorme, tudo jaz,
ou nada,
Num golfo seco,
reduzido a um traço, sem mais.
As incógnitas
cansaram-se de brincar às equações
E aqui está a demonstração
algébrica
Em que a vida confirma
o que sempre suspeitamos
E por fim se confessa
instante.
Nuno Rocha Morais