Que têm um
rio por alma,
Cidades aéreas
e viageiras
Onde até a
pedra é volátil,
Corpo nómada.
Desçamos
ao cais: O rio à cintura da cidade
As
frontarias das casas estão escurecidas
Pela
humidade do tempo,
Mas há
aqui um prenúncio de passado,
Uma história
emergindo da obscuridade
Como a
linha da terra emerge
Do
horizonte estéril.
Todas as
noites, todos os séculos
Se abeiram
e aportam aqui
Podemos
ouvi-los falar –
E até ver
a sua fé cravejada de especiarias, ouro,
Sentir a fragrância
dos mortos,
Os seus
corpos atravessados
Pelo vento
que vem do mar,
E
entendemos estes séculos,
Aqui
reunidos em consílio.
Partem,
majestosos, sobem o rio
Mas deixam
sempre vestígios,
Continuamente
o passado
Visita o
presente e o altera.
E é estranho
que as coisas que não conhecemos
Não sejam
irreconhecíveis.
As cidades
com um rio por alma
Viajam,
barcos para subir o esquecimento,
E é
estranho que as tenhamos como nossas.
Nuno Rocha Morais
Nuno Rocha Morais