sexta-feira, 25 de agosto de 2023

 Aprenderei primeiro os meus passos,

A equilibrar-me no silêncio.

Depois, apagarei tudo quanto for sagrado,

Porque nada pode ser sagrado,

Pedirei vento para apagar círios

E pedras para apagar pálpebras

Embriagadas de fé sem razão.

Caminharei, em seguida, junto à praia,

Aprenderei a construção do fogo

Que o mar traz no seio do seu sal,

O fogo na boca, sobretudo na boca.

Irei depois para ti,

Com o meu nome quase vulto,

A carícia quase rumor

E a voz uma noite escuríssima,

Com a lua obnubilada.

Envolto em tanta treva,

Iluminarei, então, toda a nudez oculta.


Nuno Rocha Morais

domingo, 13 de agosto de 2023

 

Pelo poema ressoa,

Cava, a dor do mundo,

A densidade de um excessivo haver

Ou o peso de tanta falta.

 

Nuno Rocha Morais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


segunda-feira, 7 de agosto de 2023

 Quem és, ó tu

Que povoas o meu verbo?

Presença de um espelho,

O verso caminhante

Que consigo mesmo dialoga?

Quem és? Um sinal dos deuses,

Um chamamento, o arauto

Alguém sonhado?

Quem és, ó tu

Que iluminas o discurso,

Sereno ouvinte,

Paciente estação?

Serás tu o poeta que todo o verso

Na sua torrente cria?

 

Nuno Rocha Morais

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