sábado, 29 de agosto de 2015

Cronologia fechada,
O formato do costume, sem eufemismo –
Um nome e as duas datas fatídicas,
Uma quase tão terrível como a outra,
E o frio cavado entre elas –
O formato de uma vida.
Parecem tão próximas
As duas cabeças do tempo,
Cúmplices omniscientes que se fitam,
Sem uma palavra sobre a sua maquinação,
Nada, nem o vagido da primeira
Nem o estertor da última hora,
Nenhum sinal, nenhuma linha,
Nenhuma espuma de ausência
Euforia, desespero, alegria.
Nenhuma ruína de suor,
Enzimas, fluidos, sucos
E, se entre as duas datas, houve amor
Morreu com a sua imortalidade
Ou mudou-se para outras esferas.
Só o ressumbro do vazio.
Entre as duas datas, tudo subsumido,
Isto é, asfixiado, devorado, perdido.
Entre as duas margens, um deserto,
A calcinação resignada,
A submissa e total ausência de verbos
De que nascem vozes, nomes, corpos, dias.
Tudo se confina a isto, a este punhado de caracteres,
Um nome e duas datas, entre as quais
Tudo aconteceu, ou nada,
E tudo dorme, tudo jaz, ou nada,
Num golfo seco, reduzido a um traço, sem mais.
As incógnitas cansaram-se de brincar às equações
E aqui está a demonstração algébrica
Em que a vida confirma o que sempre suspeitamos
E por fim se confessa instante.

Nuno Rocha Morais





2 comentários:

  1. Sempre incrível!
    Gostei de ler e reler e traduzir.

    Um abraço, cara Elisabete,
    Manuela


    Cronologia conclusa

    Cronologia conclusa,
    La struttura come di norma, senza eufemismi –
    Un nome e le due date fatidiche,
    Una terribile quasi quanto l’altra,
    E il freddo infiltrato fra di loro –
    La struttura di una vita.
    Sembrano tanto vicine
    Le due teste del tempo,
    Complici onniscienti che si scrutano,
    Senza una parola sopra la sua trama,
    Niente, né il vagito della prima
    Nè il rantolo dell’ultima ora,
    Nessun segnale, nessuna riga,
    Nessuna spuma d’assenza
    Euforia, angoscia, gioia.
    Nessuna traccia di sudore,
    Enzimi, fluidi, umori
    E, se fra le due date, ci fu amore
    Morì con la sua immortalità
    O si trasferì verso altre sfere.
    Solo il trasudare del vuoto.
    Fra le due date, tutto compresso,
    Cioè, soffocato, divorato, perduto.
    Fra i due estremi, un deserto,
    La rassegnata calcificazione,
    La sottomessa e totale assenza di segni
    Da cui nascano voci, nomi, corpi, giorni.
    Tutto si limita a questo, a questa manciata di caratteri,
    Un nome e due date, entro le quali
    Tutto è successo, o niente,
    E tutto dorme, tutto giace, o niente,
    In un golfo asciutto, ridotto a un tratto, nient’altro.
    Le incognite si son stancate di giocare alle equazioni
    E qui sta la dimostrazione algebrica
    Ove la vita conferma ciò che sempre abbiamo sospettato
    E finalmente si confessa istante.

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    Respostas
    1. Cara Manuela, a musicalidade da língua italiana fica tão bem com a poesia do Nuno!... Parece-me uma conjugação perfeita!
      Obrigada por mo demonstrar.
      Um abraço de amizade, Elisabete

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