O formato do costume,
sem eufemismo –
Um nome e as duas datas
fatídicas,
Uma quase tão terrível
como a outra,
E o frio cavado entre
elas –
O formato de uma vida.
Parecem tão próximas
As duas cabeças do
tempo,
Cúmplices omniscientes
que se fitam,
Sem uma palavra sobre a
sua maquinação,
Nada, nem o vagido da
primeira
Nem o estertor da última
hora,
Nenhum sinal, nenhuma
linha,
Nenhuma espuma de ausência
Euforia, desespero,
alegria.
Nenhuma ruína de suor,
Enzimas, fluidos, sucos
E, se entre as duas
datas, houve amor
Morreu com a sua
imortalidade
Ou mudou-se para outras
esferas.
Só o ressumbro do
vazio.
Entre as duas datas,
tudo subsumido,
Isto é, asfixiado,
devorado, perdido.
Entre as duas margens,
um deserto,
A calcinação resignada,
A submissa e total ausência
de verbos
De que nascem vozes,
nomes, corpos, dias.
Tudo se confina a isto,
a este punhado de caracteres,
Um nome e duas datas,
entre as quais
Tudo aconteceu, ou
nada,
E tudo dorme, tudo jaz,
ou nada,
Num golfo seco,
reduzido a um traço, sem mais.
As incógnitas
cansaram-se de brincar às equações
E aqui está a demonstração
algébrica
Em que a vida confirma
o que sempre suspeitamos
E por fim se confessa
instante.
Nuno Rocha Morais
Sempre incrível!
ResponderEliminarGostei de ler e reler e traduzir.
Um abraço, cara Elisabete,
Manuela
Cronologia conclusa
Cronologia conclusa,
La struttura come di norma, senza eufemismi –
Un nome e le due date fatidiche,
Una terribile quasi quanto l’altra,
E il freddo infiltrato fra di loro –
La struttura di una vita.
Sembrano tanto vicine
Le due teste del tempo,
Complici onniscienti che si scrutano,
Senza una parola sopra la sua trama,
Niente, né il vagito della prima
Nè il rantolo dell’ultima ora,
Nessun segnale, nessuna riga,
Nessuna spuma d’assenza
Euforia, angoscia, gioia.
Nessuna traccia di sudore,
Enzimi, fluidi, umori
E, se fra le due date, ci fu amore
Morì con la sua immortalità
O si trasferì verso altre sfere.
Solo il trasudare del vuoto.
Fra le due date, tutto compresso,
Cioè, soffocato, divorato, perduto.
Fra i due estremi, un deserto,
La rassegnata calcificazione,
La sottomessa e totale assenza di segni
Da cui nascano voci, nomi, corpi, giorni.
Tutto si limita a questo, a questa manciata di caratteri,
Un nome e due date, entro le quali
Tutto è successo, o niente,
E tutto dorme, tutto giace, o niente,
In un golfo asciutto, ridotto a un tratto, nient’altro.
Le incognite si son stancate di giocare alle equazioni
E qui sta la dimostrazione algebrica
Ove la vita conferma ciò che sempre abbiamo sospettato
E finalmente si confessa istante.
Cara Manuela, a musicalidade da língua italiana fica tão bem com a poesia do Nuno!... Parece-me uma conjugação perfeita!
EliminarObrigada por mo demonstrar.
Um abraço de amizade, Elisabete