A casa
As camas, a mesa, as
cadeiras,
Assim começamos a
insinuação
Na casa onde o vazio é
uma bruma.
Vamos aprendendo como a
luz inverte a sua rota,
De uma janela à outra
Para ser manhã ou crepúsculo.
Começamos a respeitar o
ritmo da casa,
A aceitar os diferentes
tempos e silêncios
Dos quartos, da
cozinha, da sala.
Depois chegam as coisas
vivas,
Como os livros, as
plantas, os quadros,
Os discos, as
fotografias,
O jogo de xadrez para a
mesinha:
Vão-se divisando os
tons de uma memória
Que a casa aceita como
sua
E nós entregar-lhe-emos
o sono e a confiança.
Só faltam as nossas
vozes e passos
Para definir o espaço
da casa que se deslaça.
Assim a casa começa a
respirar connosco,
Nossa, nítida.
Nossa, nítida.
Nuno Rocha Morais