“— Já nenhuma razão te assiste, ó vil
Assassina da tua própria carne.
Os deuses que te deram a beber
A sede da vingança não te ajudam:
Guiam agora o gume desta espada,
Cujo fio é justiça infalível.
Não te temo, ó mal livre e desgrenhado
Feiticeira da sombra e da serpente,
Pois quanta dor podias dar já deste.
Toda a morte possível devorou
A fonte já esgotada do meu peito.
Não te dará o medo mais poder,
Nem poderá abafar todo o meu ódio.
Subirei os degraus como a maré
Certa do seu destino e morrerás,
Medeia, e guarda algum te salvará…
Amei-te, mas o amor é como as dunas
E, lentamente, cede à mão do vento,
Vendo-se outros cabelos, outras mãos;
Amei-te, mas é breve a travessia
Desde a luz do amor ao carvão do ódio.
Sim, morrerás, Medeia, morrerás
E não terás descanso sepulcral,
Nem sequer na raiz do esquecimento.
O teu nome há-de ser todo o veneno
Que tão odiadas faz as vis serpentes”.
Nuno Rocha Morais
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