sábado, 18 de fevereiro de 2017

 -       Diz-me como é que sofres.
-       Em unidades de peso, distância e volume?
-       Diz-me como é que sofres.
-       A massa atómica do sofrimento?
-       Diz-me como é que sofres.
-       Deixando bosques e rios e vales?
-       Diz-me como é que sofres.
-       Basta haver amor para sermos infelizes?
-       Diz-me como é que sofres.
-       E se fôssemos reais?
-       Diz-me como é que sofres.
-       Em campo aberto ou por emboscada?
-       Diz-me como é que sofres.
-       Sem sacrifício e com orgulho?
-       Diz-me como é que sofres.
-       Sem sofrimento?

Nuno Rocha Morais

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Sou dos poetas que escrevem em casa,
No ventre de um silêncio familiar,
No centro de um acalento urbano,
Ruído, trabalho, pássaros,
A sofreguidão do tempo,
A cacofonia de uma rotina,
O poema perturbado
Pela imagem da gata que se espreguiça,
Pela amada, musa, mulher
Que espreita pela porta
A ver se estou ocupado.
Este é um acalento para acordar.

     Nuno Rocha Morais                                                                                  (Pintura de Rasa Sakalaite)

Deram-nos uma liberdade de cravos Desenterrada dos mais sombrios tempos – Crónica da memória – Liberdade pisada, amarfanhada Nas profundezas...