domingo, 31 de julho de 2016

Depois dos cinco continentes –
E porquê só cinco, meu Deus? –
Tenho a impressão de nunca,
Nunca ter saído do sítio.
A vida, não tanto o mundo,
É de um redondo melífluo
E o eterno retorno não passa
De uma forma de estupidez,
De uma tacanhez da imaginação,
De inépcia, só porque não soube
Provocar os lugares, a variação dos espaços.
(Esteve sempre aqui –
E sente o remorso do exílio.)

Nuno Rocha Morais

sábado, 16 de julho de 2016

PREVENÇÃO RODOVIÁRIA




A toda a velocidade,
Passamos por fardos de carne,
Montículos sangrentos;
No momento do estouro,
Talvez não tenha havido sequer tempo
Para um miado, para um ganido.
Depois, a escuridão,
A carne abandonando-se a si própria,
Embora recuse desintegrar-se,
É uma forma já inútil,
De um sarcasmo macabro,
Que se derrama ignorando limites
Que apodrecem, liquefeitos.
Nada é estanque, em toda a parte
Há uma afinidade de destinos.

Nuno Rocha Morais

terça-feira, 5 de julho de 2016

(GLOSA AO POEMA “AS MÃOS DADAS” DE JORGE DE SENA)


O outono solto.

Dêmos as mãos:
O amor — com mãos solícitas —
Faz destas dadas mãos
Idades infinitas.



               Nuno Rocha Morais

Deram-nos uma liberdade de cravos Desenterrada dos mais sombrios tempos – Crónica da memória – Liberdade pisada, amarfanhada Nas profundezas...