sábado, 6 de maio de 2017

OUTRA FALA


“O amor? Não me fale de luxos,
Por favor. Não tenho tempo
Para pássaros e estrelas.
Não tenho quem me ajude sequer
A abrir um saco plástico,
Quanto mais para me encher o coração.
Se escorregar na banheira,
É possível que ela se torne a minha sepultura
E que só um arqueólogo me encontre,
Ou algum vizinho mais extremoso
Incomodado com o fedor.
E quem me suportaria?
Ou como admitiria eu em mim
Alguém mais presente do que eu?
Não, já dobrei o cabo dessas ilusões.
Não me quero partilhar com mais ninguém –
Até porque não há nada para partilhar.
Acredite em mim: eu sei.
Tenho a idade da noite.”


Nuno Rocha Morais 

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Nos sonetos de domingo,
Lembram-se da alma,
Ensaiam lindas mágoas,
Cantam amores menores,
Guardando sempre o melhor verso
Para outra altura.
Entre vírgulas resplandecentes,
A alma encena uma dor elástica
Em versos sem nenhuma quilometragem,
Versos de seda com sóis de cetim,
Amores de veludo e champanhes de  amém:
Nos sonetos de domingo,
É dia de ir à alma
E ver o que se pode inventar.

Nuno Rocha Morais

Deram-nos uma liberdade de cravos Desenterrada dos mais sombrios tempos – Crónica da memória – Liberdade pisada, amarfanhada Nas profundezas...