De novo a chuva balbucia
Na figura da janela,
Som, som, som
E os nervos do trovão rebentam,
Som, som, som,
Amplos relâmpagos,
Luz, luz, luz.
Regressa também a minha dor,
Alheia a qualquer tempestade,
A dor da vida que não me pergunta nada,
Que não me pede nada,
Que quase parece ver-me como
Miragem da matéria.
E, de súbito, uma ternura plana
Refreia o gume desta mágoa:
O meu lado da dor valerá a pena
Se inundar o teu de flores,
Se eu te puder esconder da dor.
Nuno Rocha Morais