segunda-feira, 22 de junho de 2020

Politicamente correctos




Entre dois fogos, estes salvam-se sempre:
São os devotos de uma viscosa equidistância
E  nas entranhas têm apenas uma falsa temperança.
Aí estão, constituídos árbitros de tudo,
Pairando acima de erros e paixões
À força de sangue frio e fogo lento,
Em nada diferindo dos abutres,
Salvo na máscara que usam.
Estes são os que esperam, assépticos,
Estando ao mesmo tempo com a maioria e nas minorias.
Compreendem tudo sem jamais incorrerem em nada.
E como praticam a arte da meia-verdade
Isenta da meia-mentira inerente.
São estes que tentam mediar o fogo com o fogo
Para não contrariarem o fogo:
Como incham de tão razoáveis.
Se pudessem, certamente aboliriam o ponto de ebulição
Por entenderem desnecessária a exasperação da água.

Nuno Rocha Morais (poemas sociais)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deram-nos uma liberdade de cravos Desenterrada dos mais sombrios tempos – Crónica da memória – Liberdade pisada, amarfanhada Nas profundezas...