Gente de voz enovelada,
Quase avalanche, voz como verdura
Sufocada em pedregais,
Voz entreaberta, granítica,
Gente da voz como a manhã transmontana
Nos frios prumos do Inverno,
Gente com a
voz, às vezes fome,
Mas sempre orgulho, sempre altivez,
Esta voz fundida entre o Atlântico,
A secura, a dureza, as fragas,
Voz parcimoniosa como as árvores na paisagem
Do Alentejo ou Algarve
Na gravidade do Verão,
Voz portuguesa, que desce nos rios,
Sobe nas alvoradas, penetra nas noites,
Voz a que as estações respondem,
Voz da gente que muitos renegam ser,
Voz com um sotaque por sombra,
Do Minho, das Beiras, do Ribatejo,
Voz insular, africana, oriental
Sotaque que é coroa
E não peso de uma vergonha,
Voz que perfaz o rosto dum povo,
Da emoção, do vinho,
Voz, memória das velas,
Voz, espaço também de amor,
Ou choro ou cantos,
Voz que possui faces de cortiça ou azeite,
Voz que é o trânsito
Da verdade que é um povo.
Da verdade que é um povo.
Nuno Rocha Morais
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