quinta-feira, 18 de junho de 2020


Ao chamarem-lhe Dona Poesia
Imaginei-a com quatro filhos,
Com o marido brigão que tem por hábito beber,
Camionista ensebado que a espanca;
Imaginei-a de avental gorduroso
E lenço de cores berrantes na cabeça
Onde moram lêndeas que não possuem
Contrato de arrendamento.
Imaginei-a como mulher-a-dias,
 De quem o patrão abusou
Quando ela esfregava as escadas.
Vejo esta Dona Poesia todos os dias,
Subindo e descendo as ruas,
Vazando de cansaço,
Rumo ao crepúsculo.
Mas não servia para um quadro de Lugres
Ou para um verso cegamente clássico.

Nuno Rocha Morais (poemas sociais)

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