Vivo numa cidade tão pequena
Que não a compreendo.
A minha mãe julga-me feliz,
Mas feliz é apenas o momento
Em que, ao telefone, com ela,
Rio para esquecer todo o resto.
Preciso de alguém para cuidar,
De alguém que cuide de mim,
E nada tenho senão raiva e náusea.
Tenho outros sentimentos, creio,
Mas não os conheço.
Nesta cidade, apenas tenho de meu
A chuva que me espera
Quando saio do meu túmulo burocrático,
A chuva que perscruta o longe e o perto,
A chuva que é a minha alma à escuta.
Faço compras, o amor dói,
Tem dores de costas, bronquite,
Uma lama de náusea e raiva e corvos
E o arquejar de uma indiferença angustiada
Em que renasce, persiste e morre.
A fraqueza corre-me no sangue.
Nuno Rocha Morais
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