Estou à tua espera
E sou uma multidão que passa,
Flui e reflui, e talvez me impeça
De te ver.
Esperar-te não fará por ti o caminho,
Amar-te não será em ti amor,
Não é sequer a melodia
Que a mim trará o teu coração ouvindo,
Mas espero-te e há por isso
Tanta coisa de mim que voa,
Talvez até ao próprio chão
Não resista a lançar-se no espaço.
Esperar por ti é ouvir-te,
Mesmo que não chegues,
Mesmo que a multidão que passa venha
Impreterível, devolver-me pedaços,
Até me recompor sozinho.
Espero-te e sou assim alguém que lança
Água no deserto e espera
Que, à força de esperar, a água cresça.
Nuno Rocha Morais
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