Num dia, como qualquer outro,
Não reconheces a mulher que amas
E não sabes se esse amor
Ainda lhe pertence, ou a ti, ou sequer se existe.
Em dias como outros, morrem pessoas que amas,
E ficas dentro das suas mortes,
Na órbita de uma ausência
Que recusas infantilmente,
Que recusas sem efeito,
Porque, dia após dia, a morte
Não recuou, não desistiu.
Há quem diga que tudo isto
Acabará por fazer de nós
Pessoas melhores, mais sábias,
Com aquela sabedoria de quem já abriu
Muitas portas, de quem tem
Nos olhos muitos olhares.
É o sangue perdido
Que nos faz melhores?
A voz trémula que julgam ouvir
É certeza, sabedoria?
Nuno Rocha Morais
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