sábado, 23 de outubro de 2021

 

Num dia, como qualquer outro,

Não reconheces a mulher que amas

E não sabes se esse amor

Ainda lhe pertence, ou a ti, ou sequer se existe.

Em dias como outros, morrem pessoas que amas,

E ficas dentro das suas mortes,

Na órbita de uma ausência

Que recusas infantilmente,

Que recusas sem efeito,

Porque, dia após dia, a morte

Não recuou, não desistiu.

Há quem diga que tudo isto

Acabará por fazer de nós

Pessoas melhores, mais sábias,

Com aquela sabedoria de quem já abriu

Muitas portas, de quem tem

Nos olhos muitos olhares.

É o sangue perdido

Que nos faz melhores?

A voz trémula que julgam ouvir

É certeza, sabedoria? 

 

Nuno Rocha Morais

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