Não o conheço. O cheiro dele é-me estranho.
Consinto que me pegue, me faça festas,
Mas não escondo o meu fastio.
Trata-me com uma familiaridade
De que os gatos não gostam.
Tenho impressão de que outros vieram,
Ficaram algum tempo, o tempo
De me afeiçoar a eles, de lhes ronronar,
De lhes escolher o peito para dormir,
Sim, outros vieram, mas não ficaram
E nunca mais voltaram
Ou não voltaram a tempo
De que a minha memória ainda os guardasse,
O que vai dar ao mesmo.
A memória de um gato é curta
Porque o afecto não se pode demorar
Em quem não volta depressa.
Outros vieram. Seriam sempre o mesmo?É impossível saber, é impossível reconhecer.
Mas vou afeiçoar-me a este,
Vou ronronar a pedir-lhe colo,
Dormir junto a ele. Sei que não vai ficar
E que a memória de um gato é curta.
Mas, enquanto dura, é ferida bastante.
Nuno Rocha Morais
(1) Nome da gata do Nuno
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