Observar os pombos, beber uma cerveja
Enquanto espero pelo Ruy Belo,
Morto em 1978,
Ano em que a sua vida deixou de ser dupla,
Espero pelo Ruy Belo,
Só ele poderá entender
Esta estranha alegria que me envolve
Quando penso que vamos morrer,
Que somos efémeros e não eternos,
Como às vezes a dor parece dizer.
O Ruy Belo há-de vir, conversaremos
E não estaremos mortos nem vivos,
Vou mostrar-lhe um verso de amor
E ele perceberá o que digo
Porque ele sabe que a presença da amada
Nos transforma: de súbito,
Somos belos e todos nos vêem
E todos nos amam.
Tudo isto o Ruy Belo há-de perceber.
Os seus passos não vão afugentar os pombos.
Nuno Rocha Morais
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