sexta-feira, 5 de novembro de 2021

 Um dia, vou-me sentar em Veneza,

Observar os pombos, beber uma cerveja

Enquanto espero pelo Ruy Belo,

Morto em 1978,

Ano em que a sua vida deixou de ser dupla,

Espero pelo Ruy Belo,

Só ele poderá entender

Esta estranha alegria que me envolve

Quando penso que vamos morrer,

Que somos efémeros e não eternos,

Como às vezes a dor parece dizer.

O Ruy Belo há-de vir, conversaremos

E não estaremos mortos nem vivos,

Vou mostrar-lhe um verso de amor

E ele perceberá o que digo

Porque ele sabe que a presença da amada

Nos transforma: de súbito,

Somos belos e todos nos vêem

E todos nos amam.

Tudo isto o Ruy Belo há-de perceber.

Os seus passos não vão afugentar os pombos.

 

Nuno Rocha Morais

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