Ainda se ouve o galo,
Como um “muezzin”,
Chamar na direcção da manhã,
Ainda que sem minaretes.
Entra-se na transmigração de rotinas,
De uma em outra, de veia em veia,
Pela luz obediente, boa católica.
Ronronam bairros, trepidam,
Com o seu quê de totémico,
Mas o rosto de cariátide
É comum a todas as tribos
E nada está vivo, nem Lares,
Nem as ninfas dos bosques sagrados,
Qualquer crença, qualquer gesto
É urticante:
Todos os deuses convergiram
Para o grande vazio
Ou talvez estejam no centro
Do grande vazio intransponível
E o galo canta pela terceira vez.
Nuno Rocha Morais
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