domingo, 24 de janeiro de 2021


Ainda se ouve o galo,

Como um “muezzin”,

Chamar na direcção da manhã,

Ainda que sem minaretes.

Entra-se na transmigração de rotinas,

De uma em outra, de veia em veia,

Pela luz obediente, boa católica.

Ronronam bairros, trepidam,

Com o seu quê de totémico,

Mas o rosto de cariátide

É comum a todas as tribos

E nada está vivo, nem Lares,

Nem as ninfas dos bosques sagrados,

Qualquer crença, qualquer gesto

É urticante:

Todos os deuses convergiram

Para o grande vazio

Ou talvez estejam no centro

Do grande vazio intransponível

E o galo canta pela terceira vez.

 

Nuno Rocha Morais


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