À mesa
Teria de chegar o momento
Em que nos sentaríamos à mesa
E neste ritual reconheceríamos
A tua morte sentada connosco,
Entre nós.
Já não serás a última a sentar-te
Para jantar neste cubo de noite acesa
Navegando no interior do tempo
Para o Ano Novo,
Já não erguerás, chorosa,
A taça à saúde e vida dos teus,
Pelo menos não aqui.
Estamos silenciosos, à tua espera,
E contra nós vem a memória,
Funciona sempre a memória,
Corre a buscar-te à cozinha.
Cada um há-de lembrar-te
Em relação a ti –
A lembrança é tópica –
Da sua posição na ordem
De ter servido o prato...
Foste a primeira a partir,
A chegar como mensageira
E o universo desta mesa,
Orquestrado pelo mesmo sangue,
Há-de cindir-se em mortes
Até que à mesa
Só a morte seja conviva.
Nuno Rocha Morais
Sem comentários:
Enviar um comentário