De que causas emergem estes olhos,
Desferindo o seu negro a direito,
Ninguém sabe. Nada se sabe do desfecho
Desta mulher de cenho franzido
E cabelo desgrenhado, de número ao peito,
Miúda, tisnada por muitos mais sóis
Que se queimam na agrura.
Este rosto recusa-se a não ter feito nada,
Despreza as expressões destiladas, insípidas,
Como o arrependimento ou a piedade.
Lança-se, irremediável, no poço do seu crime,
Juntando-se à contumácia das luas,
Que preferem perder-se nas águas
À existência insípida na ficção de um céu.
No fundo, a vida dessas damas,
Adereços em casas burguesas,
Entre almofadas, reposteiros, lavores,
Um pouco pálidas, um pouco consumptas,
Não mais do que o necessário ao seu encanto;
Damas canoras, à maneira italiana em voga,
Nas tristezas, histerias e prantos.
No entanto, esta mulher prefere a culpa
De não acreditar no juízo
E muito menos na injustiça,
Essa desordem consoladora.
Se pensa em alguma coisa,
Não pensa nisso.
Por um segmento de instante,
Talvez fosse possível passar os dedos
E sentir o relevo de uma aflição,
Latente e, porém, distante.
Mas então, logo este rosto duro
Dissipa os dedos:
Imagens vindouras não podem julgar.
Nuno Rocha Morais
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