Aqui conheço o rumor da chuva,
Como se propaga pelas entranhas da casa.
Sei quando as ruas estão molhadas,
Conheço o passo leve das manhãs de Junho,
Com essa quase calidez pelos ombros
O passo dos vizinhos nas escadas
Tenho uma ideia aproximada
Das horas a que saem, a que chegam,
De quem são e o que fazem.
À noite, na sala às escuras, tenho se quiser,
A companhia de vermelhos, azuis, amarelos dos anúncios luminosos,
Mas também conheço a escuridão,
Encontro a casa sem a tentear.
O mundo vai mudar de janelas,
Janelas estranhas para o mesmo mundo,
Trazendo um mundo estranho
De sons, não será o mesmo.
É preciso esquecer que, muitas vezes,
Aqueles néons foram o único resquício,
A única réstia de qualquer esperança.
Nuno Rocha Morais
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