sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

 

Aqui conheço o rumor da chuva,

Como se propaga pelas entranhas da casa.

Sei quando as ruas estão molhadas,

Conheço o passo leve das manhãs de Junho,

Com essa quase calidez pelos ombros

O passo dos vizinhos nas escadas

Tenho uma ideia aproximada

Das horas a que saem, a que chegam,

De quem são e o que fazem.

À noite, na sala às escuras, tenho se quiser,

A companhia de vermelhos, azuis, amarelos dos anúncios luminosos,

Mas também conheço a escuridão,

Encontro a casa sem a tentear.

O mundo vai mudar de janelas,

Janelas estranhas para o mesmo mundo,

Trazendo um mundo estranho

De sons, não será o mesmo.

É preciso esquecer que, muitas vezes,

Aqueles néons foram o único resquício,

A única réstia de qualquer esperança.

 

Nuno Rocha Morais

Sem comentários:

Enviar um comentário

O ar bárbaro do mar encerra as veias E o choro dos ausentes. O vento range memórias de amarras E o sal traça o odor de epopeias marítimas. A...