Também o deus e o diabo
Se abastecem nos hipermercados.
Cruzam-se, trocam oblíquas saudações
E correm a mergulhar nas promoções,
Debatem-se nesta teia imensa
De corredores, onde as formas são valores.
E deus e o diabo tentados, deixam-se enredar
Pelas sereias publicitárias,
Compram sabonetes, vídeos,
“Delicatessen”, pensos higiénicos
De qualidade superior,
Panelas, carnes frias, cerveja estrangeira.
Os hipermercados vieram resgatar o inútil,
E, benditos, benditos hipermercados,
Vieram sanar a ferida
Da guerra primordial:
O diabo e o deus comentam na caixa
Os preços, falam deles
Usando, naturalmente,
Hipermetáforas e hipérboles de hipermercados.
Nuno Rocha Morais
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