sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Também o deus e o diabo

Se abastecem nos hipermercados.

Cruzam-se, trocam oblíquas saudações

E correm a mergulhar nas promoções,

Debatem-se nesta teia imensa

De corredores, onde as formas são valores.

E deus e o diabo tentados, deixam-se enredar

Pelas sereias publicitárias,

Compram sabonetes, vídeos,

“Delicatessen”, pensos higiénicos

De qualidade superior,

Panelas, carnes frias, cerveja estrangeira.

Os hipermercados vieram resgatar o inútil,

E, benditos, benditos hipermercados,

Vieram sanar a ferida

Da guerra primordial:

O diabo e o deus comentam na caixa

Os preços, falam deles

Usando, naturalmente,

Hipermetáforas e hipérboles de hipermercados.


 

 Nuno Rocha Morais


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