A música ondula, sobe,
Coleia, modula, serpenteia,
Oscula, refreia, fere
E cauteriza, e é assim,
Por graça destes sons, que o espírito
Oculto nos seus recessos, enclaves, montanhas,
No relevo acidentado do que somos e não somos,
Se deixa atrair pelo sortilégio
E existe no espaço, por alteração de estado:
O que é som passa a imagem
Que se projecta e desloca no espaço
Absortamente disposto em torno destas volutas
Que sobem e descem e dispersam,
Sem nunca se perderem dentro de nós,
Trazendo sempre consigo mais um motivo -
Lugares, perfumes, vivos e mortos –
Mais uma figura a acrescentar ás visões
De sentidos que em nós eram informes.
Mas o que é o reflexo de quê?
A insidia destas notas, destes compassos, destas pausas,
Reflecte o que o espírito contém
De tristeza, júbilo, amor, fúria,
Ou é o espírito que se vai criando
À imagem de sons que se desprendem,
Como numa maturação de fumo,
Para logo ganharem forma
Por esta paisagem liquida, deslizante
Que a música também já é?
Nuno Rocha Morais
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