Não te creio no útero de uma sepultura
Onde nasças para qualquer vida eterna.
És ainda a figura frágil,O riso encanecido pelos anos
De uma tristeza obscura
Os anos de amor racionado
Sob o ronronar dos bombardeiros,
És ainda as mãos nodosas,
As pernas inchadas,
És ainda os olhos semicerrados
Entrevendo a secreta linhagem
Entre os gatos e a música clássica.
Nada te pôde mudar, decompor, prender.
Neste dia de luz que o Inverno estranha
Se algo te confina é o voo de uma gaivota.
Se não és corpo, à memória de ti chamo avó.
Nuno Rocha Morais
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