quinta-feira, 15 de outubro de 2020

 

Não te creio no útero de uma sepultura

Onde nasças para qualquer vida eterna.

És ainda a figura frágil,

O riso encanecido pelos anos

De uma tristeza obscura

Os anos de amor racionado

Sob o ronronar dos bombardeiros,

És ainda as mãos nodosas,

As pernas inchadas,

És ainda os olhos semicerrados

Entrevendo a secreta linhagem

Entre os gatos e a música clássica.

Nada te pôde mudar, decompor, prender.

Neste dia de luz que o Inverno estranha

Se algo te confina é o voo de uma gaivota.

Se não és corpo, à memória de ti chamo avó.

 

Nuno Rocha Morais

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