A solidão é intolerável quando
Já não restam olhos que permitam choro algum,
Quando as lágrimas são apenas sombras,
Sendo por isso tão mais salgadas...
A solidão não mata, mas morre-se dela.
Assim, prosaicamente,
Tão prosaicamente como pousar a cabeça na almofada
E sentir-se um vulto de vácuo em volta,
Pensar-se “Estou só”.
A solidão não é o tempo,
Mas os intervalos do tempo.
Na ampulheta da mão vazia, absoluta,
Totalmente vazia, as estrelas são pó.
Na mão absolutamente vazia,
Nenhuma outra mão desagua,
Não se fundem linhas,
Não se fundem caminhos que se mutam em anéis
A que outros dão o nome de sentimento.
A solidão é uma mão vazia
Como uma janela fechada.
A solidão não é Deus.
A solidão nem sequer é o homem,
Mas um estádio final,
Um passo que a distância já não concede
E imobiliza.
Não, a solidão não é o homem.
A solidão é intolerável
E porque intolerável
Ao fundo dela há sempre o cintilar dum fim,
Um brilho afirmando que solidão não é morte.
E cada homem subscreve isto
Com o nascer cada dia.
Nuno Rocha Morais
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