sábado, 1 de agosto de 2020

 
Pela estrada amena, saem-nos ao caminho,
Como salteadores ocultos entre os fenos altos
Dois ou três versos do Canzoniere
Gravados numa placa de mármore branco –
Passos reais na passeada ficção
De uma mulher encurralada num ideal,
Eterno muito, feminino pouco.
Continuamos a caminhar entre árvores
Até ao castelo onde vão celebrar
A missa campal para a bênção da floresta.
No pátio, o sermão do padre
Sobre um reino que não é deste mundo,
Responde, como em desafio, este mundo
Com o rumorejar de abetos e águas,
Crocitos, os pés de crianças arrastados no cascalho,
A instalação sonora que se esganiça,
O bramido de trompas de caça.
Depois, o padre brande o hissope
E asperge o bosque adjacente,
De onde sopram as primícias do Outono,
E ouço-te casquinar de manso ao meu lado.
De repente, as nuvens mudaram de ideia,
E a sua realidade, em animação suspensa,
Abateu-se sobre nós em bátega.

Nuno Rocha Morais

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