quarta-feira, 1 de julho de 2020


Às dez da noite, procurei uma igreja aberta,
Não em busca do reino dos céus,
Mas para estar mais perto da terra.
Então, aí, à luz de círios,
Os contornos do silêncio tremulam
E a paixão é quase palpável
E goteja cristais destilados
No cálice do coração,
Por entre o movimento roçagante
Das figuras nos vitrais,
Que parecem abeirar-se,
Movidas por curiosidade.
As preces sussurram como trigais
E a dor é a figura maternal
Junto da cruz.
Mas, às dez da noite, não encontrei
Nenhuma igreja aberta,
Deus fechou-me todas as suas portas
E cerrou-me as suas mãos.
A sua ausência esplendia em pleno centro,
Rodeada pela escuridão atenta em anfiteatro.
Inexistindo mais alto,
Ateava-se a sua presença mais viva e mais forte.

Nuno Rocha Morais

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