Algures por ali seria a gruta
Que, irónica, escondia os nadadores,
As figuras absurdas no deserto.
Quem pintara a miragem destes corpos
Soubera como de água é a febre
E por isso seria azul a pele.
Mas que génio pintou sobre tal pele
Alterosa, nas pedras de uma gruta,
Talvez demonizado pela febre,
Estes seres, pristinos nadadores?
Qual foi o mar sabido destes corpos?
Que ondas mascararam o deserto?
Pouco importa o que já foi o deserto:
Agora é um refúgio, como a pele,
Para o sereno encontro de dois corpos —
Ainda que a mulher morra na gruta —,
Vogando, da penumbra nadadores,
Sem outra luz que a sua própria febre.
É assim que então se azula a febre —
Marinha freme a graça do deserto —
E revivem azuis os nadadores,
Já não de quaisquer águas, mas de pele.
Só não conhece vozes esta gruta,
Tardaram e abjuraram os dois corpos.
Como veneno, o amor fala dos corpos
Que um casulo vão tecendo de febre,
É amor o respirar frio da gruta.
Não importa que a vida no deserto
Se despenhe ou se extinga sob a pele
E a escuridão apague os nadadores.
O sol calcina a pele do deserto,
Mas subsiste na gruta o sal dos corpos,
Nadadores mercê de tanta febre.
Nuno Rocha Morais (Galeria)
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