domingo, 2 de agosto de 2015

Apresentação

Acordei e era noite:
Por ela me chegaram as primeiras manhãs.
Já não ouvi as últimas palavras
Ecoando no útero da fábula,
Antes de os animais se calarem para sempre
Ou de começarem a falar uma linguagem
Que a nossa babel não pode entender.
Na escuridão dela, sem medo do escuro
Terei pisado a erva do paraíso;
Se pisei era quente, de um calor humano.
Já não vi anjos ou deuses ou serpentes.
Não conhecia o sabor da maçã:
Não tinha memória de nada.
Não me lembro do sabor inocente do leite,
Nem depois da água fria do baptismo.
Desci por este sangue,
Mas não saberia dizer exactamente
Quando, em que conjunção do tempo,
Comecei a existir. Talvez só ela possa.
Ela já foi alta e agora é pequena:
Os meus olhos cresceram,
Mas ela não mudou.
A sua voz encontra em mim
Os mesmos lugares, os mesmos jardins,
Para onde caíram os pássaros do Paraíso,
Que se recomeça em qualquer lugar,
Os jardins onde se senta, talvez um pouco mais cansada –
Os jardins estarão talvez mais longe.
Subimos a corrente, trago-te pela mão,
Para te revelar o segredo último,
Embora te diga apenas:
“A minha mãe”.


Nuno Rocha Morais




2 comentários:

  1. Gostei de me perder nesse árduo labirinto imagético, nessa busca onde a razão dissolve-se dentro da emoção. Deixo a minha tradução em italiano.
    Aproveito a ocasião para pedir a sua ajuda: queria comprar on-line "Últimos Poemas", mas o livro està esgotado (ou não disponível) no Wook e no Bertrand.
    Eu ficarei muito grata se você puder me enviar um exemplar (gostaria que fosse assinado por você) e especificar quais são as condições de pagamento.
    Deixo aqui o meu e-mail (manualdo@teletu.it) onde você pode me responder privatamente e encontrar o meu endereço de casa.
    Espero que isso não lhe cause demasiado incómodo.
    Talvez, no futuro, eu possa retribuir tamanha gentileza. Disponha.
    Um abraço,
    Manuela Colombo


    Presentazione

    Mi svegliai che era notte:
    Da lei mi giunsero le prime mattine.
    Più non sentii le ultime parole
    Echeggiare nell’utero della fiaba,
    Prima che gli animali tacessero per sempre
    O cominciassero a parlare un linguaggio
    Che la nostra babele non può capire.
    In quell’oscurità, senza paura del buio
    Avrò calpestato l’erba del paradiso;
    Se la calpestai era calda, di un calore umano.
    Ma più non vedevo angeli o dei o serpenti.
    Non conoscevo il sapore della mela:
    Non avevo memoria di nulla.
    Non mi ricordo del sapore innocente del latte,
    Nè d’aver sentito l’acqua fredda del battesimo.
    Sono sceso lungo questo sangue,
    Ma non saprei dire esattamente
    Quando, in quale frangente temporale,
    Cominciai a esistere. Forse solo lei può.
    Lei che già fu alta e ora è piccina:
    I miei occhi crebbero,
    Ma lei non cambiò.
    La sua voce ritrova in me
    Gli stessi luoghi, gli stessi giardini,
    Ove caddero gli uccelli dal Paradiso,
    Che si ricrea in qualunque luogo,
    I giardini dove si siede, forse un po’ più stanca –
    I giardini saranno forse più lontani.
    Risaliamo la corrente, ti conduco per mano,
    Per rivelarti l’ultimo segreto,
    Malgrado ti dica solo:
    “La mia mamma”.

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    Respostas
    1. Fico-lhe muito grata por mais esta bela tradução para italiano.
      Domina tão bem a língua portuguesa!
      Já lhe mandei um email para o endereço que me enviou dando-lhe informações sobre o seu pedido.
      Um forte abraço e até sempre

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