sábado, 9 de maio de 2015

Certidão de nascimento



A folha de papel que tenho à frente,
Lavrada pela mão mecânica
E indiferente de escrivão, sou eu.
Nela sem emoção alguma, soa
A meia-noite e quinze
De um dia trinta e um de Dezembro.
Mas já estão alguns nomes
E entretanto esses nomes cresceram
Como trigo e encheram-se de amor
Ao crescerem comigo, são mel, cera, tecto.
Como um portulano, esta folha
Exibe as conjunções de vidas
Banindo o arbitrário do humano.
Não podia ser senão assim.
Mas a letra de máquina ignora tudo.
No entanto, esta folha de máquina sou eu –
Com duas gralhas, mas sem erros de ortografia,
E isto deixa-me tranquilo.


Nuno Rocha Morais 

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