sábado, 31 de maio de 2025

(Lisboa)


A pressa desconstrói ritmos,

Cadências à sua imagem.

Deixo-me conduzir

Pelo rancor das ruas

E que a memória seja fera.

Passo pelas estátuas e a sua reticência,

Sei que não sou mais do que isto,

Como tantos outros – um par de olhos

Devolutos, pelo rancor das ruas.

Cada fissura é o meu destino,

Cada desabamento traça o meu curso,

Mas isto não significa que eu esteja escrito.

 

Nuno Rocha Morais


sábado, 24 de maio de 2025

“Green Peace”


Lançar nas palavras

A voz da Paz Verde

Impedir que dissolvam o céu

Por entre as largas gargantas do fumo.

Com as sílabas de cada gesto,

Mas gestos que caibam nas mãos,

Construir a Paz Verde.

Deixar que os pequenos veios 

Da Paz Verde

Irriguem a cegueira do betão.

Algo de raiz pura e animal

Se acende no peito. Será

A Paz Verde? 


Nuno Rocha Morrais

sábado, 17 de maio de 2025


Chamaram-me triste

Mas eu seria tão mais poeta

Se não me tivessem dado título algum.


Nuno Rocha Morais

 

sábado, 10 de maio de 2025









Nos anéis sucessivos da manhã,
A cidade vai crescendo,

Como se criada, emergindo

As casas e as ruas e as gentes

Dos limbos hibernantes da noite.

A liberdade, aqui, não é o vento

Acelerado pelas gaivotas,

Nem tão pouco as águas que findas,

Se transformam, no oceano,

Em tempo sem margens.

Apenas as pedras são livres,

Mudas nos redis das suas histórias,

Tempo sem morte, mas idade,

Eloquência sem palavra. 


Nuno Rocha Morais

sábado, 3 de maio de 2025


Agora vais aprender a estar só.

A olhar para as tuas mãos

Depois de te terem partido

Minuciosamente, um a um,

Todos os dedos, inúteis como gravetos.

Vê como não se dissolveram os teus gritos,

Cravados no ar. Vê,

Vais aprender a desprender de ti

Todo o amor com ferocidade

E, porém, numa perplexidade geométrica

E só poderás entender a perplexidade.

Tudo isto, há muito o adivinhavas,

Há tanto tempo – porque esta

Foi a solidão que em outros deixaste.


Nuno Rocha Morais



 

As contracções, A ira de Deus, O sangue da maçã mordida, A serpente enroscada No pescoço que aperta E aperta, A fractura da identidade, A de...