Estou só, mas deveria dizer que nevou muito
E sob a neve há uma como respiração suspensa.O verão espreita já sobre os telhados mais distantes,
Mas estas aves, todas – andorinhas,
Melros, pardais, pombas –
Que mais podem ser senão gaivotas em terra?
Debaixo de todo este sol
O mar dorme um sono quase infantil,
Liberta, quase sem resistência, sem fragor,
As suas ondas fetais ainda.
Lentamente, o calor ganha terreno, dilata-se
Entranha-se, traz a roupagem de uma euforia,
Uma felicidade da terra, inexplicável,
Mas só agora conseguirei falar da chuva
E é o sibilar feroz da chuva
Que se ouve nas vidraças destes versos,
Porque não tenho outra maneira
Senão ouvi-la dizer que estou só.
Nuno Rocha Morais
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