domingo, 25 de fevereiro de 2024

Contricção



Não, não serei o poeta

Das causas altissonantes,

O poeta sonhado pela eternidade

Para cantar as geometrias da beleza.

Não serei o poeta

De suspiros primevos,

Ou o poeta que renega a sua condição

E nela pisa para estar mais próximo

De algum deus.

Não serei o poeta-pássaro,

Canto de pétrea temperatura,

Imutável, firme.

 

Serei somente o poeta que em mim houver,

Talvez o do discurso soníloquo

Que nem assoma

A superfície da noite:

Serei se ele em mim for, 

O poeta ninguém,

O poeta que ninguém sonha,

O poeta que, dissolvido no homem,

É do poeta só leve travo.


Nuno Rocha Morais

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