A sombra do que vivemos
Tem a altura da nossa infelicidade,
Avaliamos a importância do que dizemos
Pelo volume do que omitimos.
Aonde o meu gosto pessoal vai,
Ela esquiva-se, resiste,
E a sua recusa é uma água-forte
Que se grava no rosto, nos gestos,
Falo contra esse último em mim
Que me chama e chama.
Esse último que é o meu próprio juízo,
Final e inapelável,
Quando nem o desespero é oponível.
Um lago aqui parece-te um erro da paisagem,
Um erro onde nos queremos demorar,
Ficar se isso nos fosse dado.
A fortuna mestiça que tudo contesta,
Tudo o que nos percute, compele
A neve de pétalas da magnólia –
O preço da primavera.
A noite peripatética,
O tempo que reflui sobre si próprio,
Que não se evade, mas se evola
E é também estas pétalas moribundas.
Nuno Rocha Morais
(Poemas dos Dias 2022)
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