domingo, 11 de fevereiro de 2024


A sombra do que vivemos

Tem a altura da nossa infelicidade,

Avaliamos a importância do que dizemos

Pelo volume do que omitimos.

Aonde o meu gosto pessoal vai,

Ela esquiva-se, resiste,

E a sua recusa é uma água-forte

Que se grava no rosto, nos gestos,

Falo contra esse último em mim

Que me chama e chama.

Esse último que é o meu próprio juízo,

Final e inapelável,

Quando nem o desespero é oponível.

Um lago aqui parece-te um erro da paisagem,

Um erro onde nos queremos demorar,

Ficar se isso nos fosse dado.

A fortuna mestiça que tudo contesta,

Tudo o que nos percute, compele

A neve de pétalas da magnólia –

O preço da primavera.

A noite peripatética,

O tempo que reflui sobre si próprio,

Que não se evade, mas se evola

E é também estas pétalas moribundas.


Nuno Rocha Morais

(Poemas dos Dias 2022) 

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