quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

 

A casa gorgoleja, estala, range,

Estuda-me com ruídos estranhos

Que me rondam como animais –

Numa reacção física, regougam, rosnam,

Porque aqui o estranho sou eu,

A minha respiração é uma interferência

Na ordem do som e do espaço.

Na noite seguinte, os ruídos cessaram

Ou tornaram-se uma voz familiar,

Uma presença tutelar,

Como o perfume e a respiração

Do sono ao meu lado.

Agora que não falamos a mesma língua,

Passamos o dia inteiro na penumbra

À procura numa cama de uma raiz comum,

De um sinal de encontro, de reunião;

O amor tem tudo de uma investigação filológica,

Excepto as palavras, que enlouquecem ao segundo dia

Como insectos enclausurados,

Para morrerem ao terceiro.


Nuno Rocha Morais (Poemas dos Dias-2022)

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