A casa gorgoleja, estala, range,
Estuda-me com ruídos estranhos
Que me rondam como animais –
Numa reacção física, regougam, rosnam,
Porque aqui o estranho sou eu,
A minha respiração é uma interferência
Na ordem do som e do espaço.
Na noite seguinte, os ruídos cessaram
Ou tornaram-se uma voz familiar,
Uma presença tutelar,
Como o perfume e a respiração
Do sono ao meu lado.
Agora que não falamos a mesma língua,
Passamos o dia inteiro na penumbra
À procura numa cama de uma raiz comum,
De um sinal de encontro, de reunião;
O amor tem tudo de uma investigação filológica,
Excepto as palavras, que enlouquecem ao segundo dia
Como insectos enclausurados,
Para morrerem ao terceiro.
Nuno Rocha Morais (Poemas dos Dias-2022)
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