quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

 Chegou não sendo ninguém,

A figura vazia, o peregrino

De nenhuma fé,

Nenhum rasto deixavam 

Os seus passos sobre a neve, 

As suas mãos não poderiam

Mover sequer uma folha.

Chegou a uma vida

De absoluta indiferença,

O inverno era o mais frio

Em muitos anos.

Dormiu em camas várias

Sonos emprestados;

Olhar apenas sentado

Era a única possibilidade de viver.

Deixou-se cair para render

Homenagem ao abismo,

A maníaca hora das refeições,

Os solitários agarrando-se

Ao seu vazio como única sobrevivência,

Em tudo isto, ninguém.


Nuno Rocha Morais

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