quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Cosmogonia

Não sei. Não me lembro.

A memória não enreda vultos,

Milénios domados pelo esquecimento,

Histórias anteriores a toda a História.

Mas, por vezes, imagino células do tempo

Que se agrupam em dias

E os dias são a primeira coisa criada,

A primeira resposta ao não haver nada,

Nem sequer o silêncio das existências.

E os dias começam os trabalhos.

Da luz líquida nascem as águas;

Da luz opaca, opressiva, a terra;

Da luz incandescente, o fogo;

Das estradas da luz, o ar;

E os trabalhos vão-se fundindo,

Povoando os dias.

Talvez tenha sido assim. Não sei. Não me lembro.

Existiremos, quando o nosso início

Mais não é do que figuras de sonho?  


Nuno Rocha Morais

(Poemas dos dias - 2022)

Este foi o poema de base da apresentação do livro Poemas dos Dias feita por Rui Santiago - "Cosmogonia"


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