domingo, 18 de setembro de 2022



No jardim de sempre, então, fiquei a ouvir

O vento em árvores familiares,

O mesmo que ouvimos juntos

Quando na voz as palavras já estão apagadas.

É apenas ouvir o vento em árvores familiares

E eu sinto que a minha casa não me espera, mas se dissipou,

Tão pouco é o que levo de ti.

E talvez por isso hoje o vento me pareça tão carregado,

Como se arrastasse algo mais do que os sons que se libertam da folhagem;

E talvez por isso este jardim de sempre e o ouvir o vento,

Tão familiar em árvores familiares,

Sejam a minha casa, onde posso viver um momento, 

Um momento que me chega intacto.

E é uma casa onde sei que te amo o bastante

Para saber que não morreria por ti,

Mas enfrentaria um perigo maior: viver por ti. 


Nuno Rocha Morais

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