No jardim de sempre, então, fiquei a ouvir
O vento em árvores familiares,
O mesmo que ouvimos juntos
Quando na voz as palavras já estão apagadas.
É apenas ouvir o vento em árvores familiares
E eu sinto que a minha casa não me espera, mas se dissipou,
Tão pouco é o que levo de ti.
E talvez por isso hoje o vento me pareça tão carregado,
Como se arrastasse algo mais do que os sons que se libertam da folhagem;
E talvez por isso este jardim de sempre e o ouvir o vento,
Tão familiar em árvores familiares,
Sejam a minha casa, onde posso viver um momento,
Um momento que me chega intacto.
E é uma casa onde sei que te amo o bastante
Para saber que não morreria por ti,
Mas enfrentaria um perigo maior: viver por ti.
Nuno Rocha Morais
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