Ei-lo, o poema, meu velho inimigo
De armas terríveis, porque minhas –
A dor, o que amo, o que não posso ser –
Desferidas em cada verso.
O poema, sim, meu velho inimigo,
Que nunca é uma imagem,
Que nunca cintila
E, ainda assim, me revolve os olhos,
Diz-me ao ouvido os segredos que mais temo,
E o que mais temo são as coisas que amo,
Só essas me podem destruir.
Tudo isto o poema sabe e utiliza,
Meu velho e eficaz inimigo
Que dava forma a tudo o que eu não poderia ser.
Nunca lhe perguntei porquê,
Por que razão ele vem para me odiar –
O poema é uma ferida
Com a qual não há reconciliação,
Insiste, existe, é um inimigo.
Nuno Rocha Morais
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