quinta-feira, 17 de março de 2022

Ei-lo, o poema, meu velho inimigo

De armas terríveis, porque minhas –

A dor, o que amo, o que não posso ser –

Desferidas em cada verso.

O poema, sim, meu velho inimigo,

Que nunca é uma imagem,

Que nunca cintila

E, ainda assim, me revolve os olhos,

Diz-me ao ouvido os segredos que mais temo,

E o que mais temo são as coisas que amo,

Só essas me podem destruir.

Tudo isto o poema sabe e utiliza,

Meu velho e eficaz inimigo

Que dava forma a tudo o que eu não poderia ser.

Nunca lhe perguntei porquê,

Por que razão ele vem para me odiar –

O poema é uma ferida

Com a qual não há reconciliação,

Insiste, existe, é um inimigo.

 

Nuno Rocha Morais


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