sábado, 29 de janeiro de 2022

Diário


Continuamos à espera de ordens.

Do inimigo, nem sinal.

Não interessa quem ganhou, quem perdeu:

Se a guerra acabou, queremos saber,

Queremos voltar. Mas, para onde?

Já não recebemos cartas nem reforços,

Já não somos rendidos.

Será que nos esqueceram neste fim de mundo?

Ainda vivos, já somos soldados desconhecidos?

Estamos cansados desta rotina,

Destes uniformes, destas armas,

Estamos cansados uns dos outros.

Só homens, só cheiro de homens,

Nem sequer uma árvore para nos lembrar

A presença de uma mulher. Nada.

As nossas almas desertaram há muito.

Nenhum de nós regressará herói.

Não vimos nada, não fizemos nada,

Limitámo-nos a esperar, enterrados,

E, entretanto fomo-nos apagando, diluindo,

Até se esquecerem de nós.

Não vimos nada desta guerra,

Provavelmente acabou há muito,

Provavelmente nunca se travou,

Mas poderemos algum dia dizer

Que lhe sobrevivemos?

 

Nuno Rocha Morais



Sem comentários:

Enviar um comentário

Não quer nada cada um dos meus versos Às vezes, alíseos, Outras, fantasiosas paisagens, Outras ainda resumos de pedras. Cada um dos meus ver...