Não quero que os meus filhos nasçam neste mundo
E não há outro senão este,
Que se vai estrangulando no seu próprio ritmo.
Queria que os meus filhos vissem e reconhecessem
Uma galinha, o mar, um ovo,
Uma árvore, o ar amplo
E não apenas o horror do fogo, do crude,
A violência do medo.
Oh, meus filhos, cujo ritmo está já em mim,
Que fazer para que possais respirar?
O nosso deus é um deus impuro,
Eu só posso perguntar, perguntar,
Porque todas as vidas são perguntas
E o que lhes responde é apenas a morte.
Oh, meus filhos, que pressinto já,
Como arranjar um lugar
Onde possais ser a liberdade
De uma árvore, de uma gaivota, do mar?
Não sei o que significa esta dor,
Se é um sinal maldito de tempos malditos
Se rumo para mais dor,
Porque a dor conduz sempre
A um golfo de dor maior.
Mas sei que não vos quero, meus filhos,
Num tempo em que vos chamem
Um número mais entre os malditos.
E se o que desejo para os meus filhos,
De tão simples que foi,
Se tiver tornado impossível –
Dias iguais à vida –
Então, meus filhos, ficai dentro de mim.
Nuno Rocha Morais
Sem comentários:
Enviar um comentário