quinta-feira, 11 de novembro de 2021

 Não quero que os meus filhos nasçam neste mundo

E não há outro senão este,

Que se vai estrangulando no seu próprio ritmo.

Queria que os meus filhos vissem e reconhecessem

Uma galinha, o mar, um ovo,

Uma árvore, o ar amplo

E não apenas o horror do fogo, do crude,

A violência do medo.

Oh, meus filhos, cujo ritmo está já em mim,

Que fazer para que possais respirar?

O nosso deus é um deus impuro,

Eu só posso perguntar, perguntar,

Porque todas as vidas são perguntas

E o que lhes responde é apenas a morte.

Oh, meus filhos, que pressinto já,

Como arranjar um lugar

Onde possais ser a liberdade

De uma árvore, de uma gaivota, do mar?

Não sei o que significa esta dor,

Se é um sinal maldito de tempos malditos

Se rumo para mais dor,

Porque a dor conduz sempre

A um golfo de dor maior.

Mas sei que não vos quero, meus filhos,

Num tempo em que vos chamem

Um número mais entre os malditos.

E se o que desejo para os meus filhos,

De tão simples que foi,

Se tiver tornado impossível –

Dias iguais à vida –

Então, meus filhos, ficai dentro de mim.

 

Nuno Rocha Morais


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