sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Poema publicado no boletim da língua portuguesa nas instituições europeias "a folha"


Tempo e negação

Mudo com o tempo que não muda,
Hei‑de impor‑lhe a minha metamorfose.
Nada será de criaturas e essências
Que eu não filtre,
Passados, planetas, marés, distâncias.
Será apenas o que eu passei
E nunca o que eu passar.
Existe sempre depois de mim
E é um pobre Narciso,
Vendo‑se no rosto que abandonei.
Mudo com o tempo que só existe
Enquanto mudo, e um pouco depois
Para trás, em espaços aleatórios,
Interstícios arbitrários, construções.
Não existo nele e ele à minha frente
Senão quando o penso e projecto;
Sou a sua fronteira e caminho.
Ouço‑o: raspa, roça, ronda,
Possivelmente com fome. Deixá‑lo.
Depois de mim, irá livre.
para nunca mais ser tempo.

Nuno Rocha Morais



1 comentário:

  1. Le temps et la négation

    Je change au fil du temps qui ne me change pas.
    Il est averti de ma métamorphose.
    Rien ne sera, créatures, essences
    Que n'ait filtrés mon être,
    Passé, planètes, marées, distances.
    Sera-ce à peine ce que j'ai traversé
    Mais jamais ce que j'ai dû laisser.
    Toujours il existe après moi,
    C'est un pauvre Narcisse
    Ne trouvant qu’un visage abandonné.
    Je change au fil du temps qui seul existe
    Alors que je change, et un peu après
    En arrière, sont des espaces aléatoires,
    Des interstices arbitraires, des constructions.
    Je n'existe pas en lui. Il est en face de moi,
    Du moins, quand je le pense et le projette ;
    Je suis sa frontière et le chemin.
    Je l'entends : qui gratte, qui râpe et gronde,
    Peut-être est-il affamé. Laissez-le donc.
    Après moi, il s'en ira libre alors
    Pour n’être plus jamais le temps.

    ResponderEliminar

Onde estais versos magníficos, Cantos de fachada belíssima, Naves de silêncio imponente, Palavras que ultrapassam o tempo, Onde estais, que ...