(À maneira de Yorgos Seferis)
Éramos tão jovens e o amor tardio:
Não o veríamos, como o não vimos,
Como o não veremos.
A lunação de um anjo
Atravessou sussurradamente
As nossas marés, os nossos lugares,
Escapou às malhas dos nossos corações.
É verdade, envelhecemos,
E o amor rescende, tão jovem.
Como se faz agora?
Quanto passou deixou uma ferida
E o passar do anjo que não vimos
Cobre-as de sal.
O amor, tão jovem, já nada pode em nós,
Somos incêndios cristalizados.
Tu terás sido o anjo que não vi,
Aqui ficaste, caída, desfolhando-te,
Perpétua na tua efemeridade.
Perdemos tudo.
Pela primeira vez sentimo-nos claramente esculpidos,
Libertos da pedra da carne,
Mas só uma tristeza vil nos esculpiu.
Nuno Rocha Morais
(Galeria 2016)
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