domingo, 9 de fevereiro de 2025


(À maneira de Yorgos Seferis)

 

Éramos tão jovens e o amor tardio:

Não o veríamos, como o não vimos,

Como o não veremos.

A lunação de um anjo 

Atravessou sussurradamente

As nossas marés, os nossos lugares,

Escapou às malhas dos nossos corações.

É verdade, envelhecemos,

E o amor rescende, tão jovem.

Como se faz agora?

Quanto passou deixou uma ferida

E o passar do anjo que não vimos

Cobre-as de sal.

O amor, tão jovem, já nada pode em nós,

Somos incêndios cristalizados.

Tu terás sido o anjo que não vi,

Aqui ficaste, caída, desfolhando-te,

Perpétua na tua efemeridade.

Perdemos tudo.

Pela primeira vez sentimo-nos claramente esculpidos,

Libertos da pedra da carne,

Mas só uma tristeza vil nos esculpiu. 


Nuno Rocha Morais

 (Galeria 2016)

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