sábado, 30 de março de 2024

 

Sobretudo não esquecer

Que também foi um homem

E que esse sangue lhe trouxe

As imagens mais violentas,

À luz dúbia, de biombo,

É impossível saber que rosto fita:

Imolação ou redenção?

Talvez aqui se entrelacem 

Para o jogo de sombras chinesas.

Não esquecer que foi um homem

E que a laceração da carne

Nunca lhe foi abstracta

Nem, tão pouco, o amor esmagado

Contra as paredes da alma.

 

Será talvez uma fábula,

Um homem que fala

Por detrás das suas palavras

Quando deveria estar silencioso

No que lhe resta de deus,

Mas fala em vozes sobrepostas

E a bifurcação é o mesmo caminho

Na sua dor em fogo lento.


Nuno Rocha Morais


 

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