“Era uma vez”:
Aqui começa o tempo anulado,
O oásis, a cidade
Que surge perante a caravana
Vergada pelo peso do deserto
E do céu nítido.
Aqui começam as danças verdes,
Aqui começa a escorrer a origem.
Aqui “era uma vez”:
Aqui a gárgula das palavras,
Aqui começa uma lenta leveza,
Um esvoaçar de espanto,
Aqui começam os alfabetos
Das línguas como tapetes voadores,
Casas de açúcar, florestas.
Aqui começa a voz nascida
Dentro de tudo: animais, casas,
Árvores, águas, ventos.
“Era uma vez”:
Aqui se sepulta o pensamento,
Aqui se combinam os quatro elementos
De não se existir
Na redoma de uma vida caducifólia.
“Era uma vez”, “Era uma vez”:
Aqui se abrem os céus do voo,
Aqui se recomeça a alquimia da infância,
Aqui se aboliu toda a idade.
Nuno Rocha Morais
Poemas dos dias (2022)
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