Junto ao Sena, o vento
Rapta a nossa efemeridade.
É o vento de Paris que lhe dá rumo.
É outono e tudo começa
A não ser verdadeiro
Para o olhar que não mudou.
Mudam-se as roupagens,
Prepara-se outro amor e outra morte.
Em Paris, a morte não significa morrer –
Talvez um tempo que já tenha sido regresse.
É em Paris que encontro Beatrice,
Já não uma aristocrata florentina,
Mas a publicitária que me vende um perfume
E traja de azul e fala a cantar.
E o seu sorriso é um fragor em mim
E os lugares-comuns são esplendorosos
Para falar de Beatrice.
É perante ela que uma vida enflora
Para se fechar no mesmo momento,
Fim e principio sobrepostos, indistintos.
No circulo do vento com a minha alma
Está Beatrice e Beatrice,
Na minha alma, diz-me
Que aqui, em Paris, com ela,
A minha efemeridade pode durar
Um pouco mais.
Nuno Rocha Morais
Poemas dos dias (2022)
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