terça-feira, 23 de janeiro de 2024


Junto ao Sena, o vento

Rapta a nossa efemeridade.

É o vento de Paris que lhe dá rumo.

É outono e tudo começa

A não ser verdadeiro

Para o olhar que não mudou.

Mudam-se as roupagens,

Prepara-se outro amor e outra morte.

Em Paris, a morte não significa morrer –

Talvez um tempo que já tenha sido regresse.

É em Paris que encontro Beatrice,

Já não uma aristocrata florentina,

Mas a publicitária que me vende um perfume

E traja de azul e fala a cantar.

E o seu sorriso é um fragor em mim

E os lugares-comuns são esplendorosos

Para falar de Beatrice.

É perante ela que uma vida enflora

Para se fechar no mesmo momento,

Fim e principio sobrepostos, indistintos.

No circulo do vento com a minha alma

Está Beatrice e Beatrice,

Na minha alma, diz-me

Que aqui, em Paris, com ela,

A minha efemeridade pode durar

Um pouco mais.


Nuno Rocha Morais

Poemas dos dias (2022)

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