Um sujeito de bruma,
Um agente chamado poeta
Que rema contra os rumos,
Um predicado múltiplo, estilhaçado,
Precário e eterno,
Um retorno a lado algum,
Memória do imemorável,
Semente de uma qualquer consciência afogada.
Objecto directo como um polvo de cores,
Um relâmpago de gestos,
A fugacidade de uma permanência,
A superfície como um buraco
Esboroando-se lenta, lentamente.
Objecto indirecto a amada,
Incerta, distante, onírica, imaginada,
Próxima, terna.
Obliquo, um complemento circunstancial de silêncio,
Um tempo construído nas palavras,
Um modo mutável, quase miragem.
Um meio de voz, a voz profanando,
A causa, a sede desesperada das estrelas invisíveis
Mas nítidas, e este é o fim,
Porque fim não é síntese, não é completude
De nada ou ninguém.
Sem companhia, um sujeito transforma,
Faz emergir da estrutura de superfície
A estrutura profunda
Destruindo a gramática do pó,
Destruindo linguísticas, sintaxes, morfologias,
Queimando as palavras hieráticas,
Mantendo apenas viva na lembrança a arte de esquecer.
Nuno Rocha Morais
(Poemas dos dias - 2022)
Sem comentários:
Enviar um comentário