domingo, 8 de outubro de 2023

Noções de Linguística Aplicada


Um sujeito de bruma,

Um agente chamado poeta

Que rema contra os rumos,

Um predicado múltiplo, estilhaçado,

Precário e eterno,

Um retorno a lado algum,

Memória do imemorável,

Semente de uma qualquer consciência afogada.

Objecto directo como um polvo de cores,

Um relâmpago de gestos,

A fugacidade de uma permanência,

A superfície como um buraco

Esboroando-se lenta, lentamente.

Objecto indirecto a amada,

Incerta, distante, onírica, imaginada,

Próxima, terna.

Obliquo, um complemento circunstancial de silêncio,

Um tempo construído nas palavras,

Um modo mutável, quase miragem.

Um meio de voz, a voz profanando,

A causa, a sede desesperada das estrelas invisíveis

Mas nítidas, e este é o fim,

Porque fim não é síntese, não é completude

De nada ou ninguém.

Sem companhia, um sujeito transforma,

Faz emergir da estrutura de superfície

A estrutura profunda

Destruindo a gramática do pó,

Destruindo linguísticas, sintaxes, morfologias,

Queimando as palavras hieráticas,

Mantendo apenas viva na lembrança a arte de esquecer.



Nuno Rocha Morais 

(Poemas dos dias - 2022)

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