Não entendes esta tristeza
Que, subitamente, me queima a voz
E rapta os meus olhos para a sua distância.
Vou, então, procurar a melancolia do Porto,
De que às vezes me falas e dizes que não gostas,
Vou procurar os recantos e sombras
Que a solidão visita e onde se demora,
Certas ruas furtivas, quase secretas,
Ruas quase conchas,
Porque as ruas no Porto não conduzem,
Mas fogem, entranham-se, estreitam-se,
Fogem em pequenas vielas sombrias.
Vou procurar a melancolia do Porto,
Que está em todo o lado,
Na humidade antiga, no frio cinzento,
Nas tardes de um verão indeciso, fustigado,
Até no riso dessas crianças
Para quem o mundo todo
Não vai além das pontes e do cais.
Não preciso de a procurar,
À melancolia do Porto:
A tristeza que não entendes correu para ela,
Desaguou já na confiança de antigos conhecidos.
Posso ficar a sós com a melancolia do Porto.
Nuno Rocha Morais
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