domingo, 29 de outubro de 2023

Não entendes esta tristeza

Que, subitamente, me queima a voz

E rapta os meus olhos para a sua distância.

Vou, então, procurar a melancolia do Porto,

De que às vezes me falas e dizes que não gostas,

Vou procurar os recantos e sombras

Que a solidão visita e onde se demora,

Certas ruas furtivas, quase secretas,

Ruas quase conchas,  

Porque as ruas no Porto não conduzem,

Mas fogem, entranham-se, estreitam-se,

Fogem em pequenas vielas sombrias.

Vou procurar a melancolia do Porto,

Que está em todo o lado,

Na humidade antiga, no frio cinzento,

Nas tardes de um verão indeciso, fustigado,

Até no riso dessas crianças

Para quem o mundo todo

Não vai além das pontes e do cais.

Não preciso de a procurar,

À melancolia do Porto:

A tristeza que não entendes correu para ela,

Desaguou já na confiança de antigos conhecidos.

Posso ficar a sós com a melancolia do Porto. 


Nuno Rocha Morais


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