domingo, 16 de abril de 2023

 “A verdade é que estou confuso,

A verdade é que estou perdido.

Cada coisa que te digo

É uma declaração de guerra,

Ou nada do que te digo interessa,

E o silêncio é dar margem

A uma margem que cresce.

Marcaria encontro contigo, dentro de ti,

Para te perguntar onde estás –

Se ainda aceitasses ver-me.

Diria que te amo

Se aceitasses ouvir-me.

Dir-te-ia que estou aqui

Se ainda me aceitasses dentro de ti.”

Confundo as identidades

Da estrela da manhã e da estrela da tarde

Posso imaginar que os meus olhos

Estejam agora húmidos com a confusão

De um cão que não entende as palavras,

Mas apenas o tom.

Posso conceber que essa ternura perplexa

Cause repulsa, mas não a entendo.

Tudo o que te possa dizer

Te soará a declaração de guerra

Ou, pior ainda, a capitulação

Neste jogo de identidades que se desfocam,

Num combate de sombras

Entre forças que se desprendem.

E o silêncio é dar margem

A essa margem que cresce.

Em breve passará um rio, soará a noite,

E será o mundo.


Nuno Rocha Morais

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